Viajando devagar: de bicicleta por Inishmore

A viagem de ferry de Rossaveal a Inishmore (Inis Mór em irlandês) demora 45 minutos. À medida que o Atlântico faz o barco balançar de um lado para o outro, começo a sentir as pints de Guinness que bebi na noite anterior.

 

Nesta altura, o relógio marca 10.45 da manhã e os jovens turistas em redor de mim e do meu companheiro de viagem estão a comportar-se de uma forma demasiado alegre e energética para o meu gosto.

 

O céu está nublado, mas tenho os óculos de sol postos e o capuz do casaco para cima por outras razões que não apenas proteger-me dos raios ultra-violeta.

 

Por mais que tente, não sei como é que vou conseguir passar o dia inteiro a percorrer uma ilha de bicicleta.

 

No entanto, assim que o barco atraca, o sol atravessa as nuvens e Inishmore é banhada pelo mais raro dos prazeres: um dia ininterrupto de sol irlandês.

 

Seria falta de educação não aproveitar um dia assim.

 

Ao chegar ao porto de Inishmore, são-lhe apresentadas várias opções de transporte pela ilha, para ver as suas atracções mais famosas. O mini-autocarro e os passeios numa carruagem puxada por póneis parecem ser... fáceis. E tentadoras.

 

Contudo, por apenas 10€ é possível alugar uma bicicleta por um dia inteiro, incluindo um mapa da ilha e um capacete, se quiser.

 

E, na verdade, a razão pela qual viemos foi para andar de bicicleta, por isso dispensamos os póneis e vamos directos à Aran Bike Hire.

Foto: Facebook

São 8 quilómetros do porto até à principal atracção da ilha: o antigo forte circular da Idade do Bronze, o Dún Aonghasa.

 

Há outro caminho mais curto que também o leva lá, pelo interior da ilha, mas o passeio ao longo da costa proporciona um cenário magnífico, perto da colónia de focas da ilha e, muito importante, não tem muitas subidas. Assim, vamos ver as focas.

 

Para minha decepção, não há focas à vista. Ou, pelo menos, é o que me parece, até notar que, de repente, duas das rochas para as quais estava a olhar dão à cauda na minha direcção.

 

Agora sim, começo a vê-las, maravilhosamente camufladas nas rochas húmidas e cobertas de musgo. As focas são fantásticas.

 

São animais enormes e gorduchos, simplesmente a descansar ao sol, virando de vez em quando as cabeças e dando um pequeno mergulho. Basta olhar para elas para sentir tranquilidade.

 

Se gosta de vida selvagem, vai adorar Inishmore. É possível ver frequentemente golfinhos e porcos-do-mar nadando ao longo da costa.

 

Ao mesmo tempo, quem gosta de fazer observação de pássaros é regularmente presenteado com a aparição de espécies raras.

 

Flores selvagens raras despontam em locais inesperados, florescendo contra todas as probabilidades. Há também vários burros aqui e ali, que não são exactamente selvagens, mas sempre um gosto de encontrar.

 

Apesar de haver muitos turistas por toda a parte, este bonito lugar parece nunca ter sido tocado pelo mundo moderno. Esta é a Irlanda que se vê nos postais, a que traz lágrimas aos olhos.

Inishmore

Com a bênção de um dia de céu limpo, é possível ver-se o continente no horizonte, incluindo a cadeia montanhosa de 12 Bens, em Connemara.

 

O oceano é vasto e de um rico e profundo azul. Apenas podemos imaginar o quão longínquo tudo o resto deve ter parecido aos habitantes desta ilha, nos tempos em que não havia uma ligação de ferry duas vezes ao dia ou uma única loja.

 

Ao perto, há coisas tão ou mais interessantes. A ilha é um cobertor de centenas de campos ridiculamente pequenos, com muros penosamente construídos à mão, uma pequena pedra em cima de outra.

 

Aparentemente há cerca de 1600 quilómetros de muros no total, nas três ilhas de Aran. Para ter uma ideia, estamos a falar de 1600 quilómetros de muros num território com cerca de 41 quilómetros quadrados.

 

É muito muro! Acredito que quem construíu estes muros tinha as suas razões, mas os campos são tão pequenos que é difícil perceber o porquê.

 

Ainda assim, é um momento bem passado, sentado à beira da estrada, tentando compreender os motivos, especialmente se entretanto aparecer um burro particularmente encantador.

É fácil chegar a Dún Aonghasa em meia hora, até porque não é um trajecto difícil de percorrer em bicicleta.

 

Mas se é do tipo de pessoa que gosta de travar amizade com burros, de passar horas a observar focas quase catatónicas e de fazer pausas para contemplar muros, então é melhor contar com uma hora de viagem.

 

Há um centro de visitantes e um café no local. As sanduíches parecem ser boas, mas trazíamos almoço connosco (o que é aconselhável, até para evitar ficar à espera, por causa das filas). Por isso, ficámo-nos por um café.

 

A entrada no forte custa apenas 3€. O caminho até ao forte propriamente dito é impressionante em si mesma. Trata-se de um monte bastante inclinado e é difícil não se espantar com o esforço feito para o construir.

 

Como era a vida destas pessoas? Como é que acabaram aqui, e o que é que lhes deu para calcorrearem este monte para cima e para baixo, carregando pedras para construir o seu forte no local mais difícil que podiam ter escolhido?

 

Só posso concluir que isto é o que acontece quando as pessoas não tem o Youtube à mão para se distraírem.

Dún Aonghasa. Foto: Facebook

Depoos de passar algum tempo a explorar o forte e o antigo cavalo de fria ao seu redor, de comer o nosso farnel e de nos arrepiarmos com a perigosa falésia em Dún Aonghasa, fomos em busca do “buraco de minhoca”.

 

Tínhamos ouvido falar desta piscina natural em forma de rectângulo, criada pela natureza no calcário ao longo da costa sul da ilha. Só dispunhamos de algumas horas para a encontrar antes que o ferry partisse.

 

Tentámos, mas confrontados com uma expansiva paisagem cársica, sem placas com indicações nem sinal 3G, e com touros de aspecto sinistro em alguns terrenos, dos quais não tínhamos interesse em aproximar-nos, percebemos que não era exequível ir e voltar a tempo de apanhar o ferry.

 

Por isso, resolvemos desfrutar da paisagem cársica e do sol. Se quiser ir em busca o “buraco de minhoca”, sugiro que peça indicações detalhadas aos habitantes locais.

 

Também é aconselhável não perder muito tempo a dar de comer a burros que são perfeitamente capazes de encontrar erva por si próprios, porque isso lhe vai roubar tempo em Inishmore.

 

Preste atenção às indicações deixadas por outros exploradores do “buraco de minhoca” e, por favor, se o mar estiver muito bravo, tenha muito cuidado quando lá chegar, porque pode ser levado pelas ondas.

Foto: Facebook

Inishmore é uma bela ilha e este foi um dos dias mais agradáveis da nossa mini-viagem Wild Atlantic Way pela Irlanda.

 

Prometemos voltar cá por uma noite ou duas, para encontrarmos o “buraco de minhoca” e para descobrir as duas ilhas Aran mais pequenas.

 

No entanto, desta vez, temos de regressar de bicicleta a Kilronan, com tempo apenas para beber uma maravilhosa e merecida pint de Guiness antes que o barco parta.

 

Pode apanhar o ferry de Rosaveel para Inishmore por 25€ (ida e volta) com a Aran Island Ferries.

 

- Dee Murray