É possível que já saiba que a gastronomia francesa é boa, a não ser que tenha passado a sua vida toda debaixo de uma bola de queijo Camembert.
Se for o caso, é preciso dizer que não é dos piores sítios para se passar uma vida (a não ser que sofra de intolerância à lactose, e considerando que, durante todo esse tempo, teve acesso regular a baguetes frescas e crocantes).
No entanto, no caso improvável de ter passado realmente toda a sua vida debaixo de uma bola de queijo Camembert e de ter perdido de alguma forma toda a glória da gastronomia francesa, recomendamos-lhe o seguinte: sirva-se um copo de vinho Pinot, puxe uma chaise longue e delicie-se com esta lista de pratos franceses incríveis que tem de provar pelo menos uma vez na vida*.
Tenha também em conta que, com os nossos voos a preços baixos para França, a poupança que vai ter com a Ryanair pode significar a diferença entre uma destas refeições francesas ou um pacote de batatas fritas do supermercado da esquina.
Bon appetit, viandantes da Ryanair. Bon appetit.
*Sim, estou consciente de que esta lista não inclui bolos e doces. É que as coisas doces merecem um artigo só para elas.
“certamente um dos mais deliciosos pratos de carne de vaca concebidos pelo Homem” - Julia Child.
Trata-se de um prato de camponeses, digno de um rei. Ou de uma rainha. É possível que príncipes e princesas também gostem.
Se alguma vez viu o filme “Julie and Julia”, possivelmente terá fantasiado cozinhar e/ou comer Boeuf Bourguignon. No entanto, não há nada como experimentar o verdadeiro prato num pequeno bistro algures na região francesa de Borgonha.
Estamos a falar de carne de vaca estufada em vinho tinto, com cebolinhas e cogumelos salteados (secos e sem ser ao monte, obrigada Julia!), cozinhados em lume tão brando e tão devagar que a carne fica tão suave como manteiga.
Se é assim que os camponeses comem em França, sou capaz de me despedir e ir à procura de trabalho em quintas francesas...
Trata-se essencialmente de uma panela gigante de queijos franceses alpinos (e suíços), temperados com vinho branco, alho, cebola e outros condimentos maravilhosos.
Esta tina fervilhante de queijo é então transportada da panela para a sua boca no melhor recipiente que possa imaginar: pedaços de pão francês, fresco e estaladiço.
Se viajar até França para umas férias na neve, asseguramos-lhe que não há melhor forma de relaxar e de se aquecer após um dia a esquiar pelos Alpes franceses abaixo do que com uma desta delícias.
Assegure-se de que come tudo até chegar à camada crocante de queijo queimado no fundo da panela...
Valha-me Santa Marselha, que isto é tão bom!
Há um debate intenso entre os habitantes do sul de França sobre quais são os ingredientes que compõem uma verdadeira bouillabaisse, mas há algo com que todos concordam: para ser feita como deve ser, deve incluir peixe mediterrânico, açafrão (que obviamente adoramos), azeite, tomate, alho, funcho e um bouquet garni [ervas aromáticas atadas num pequeno ramo].
Em relação à forma como o prato deve ser servido, que peixe deve ser usado e o que mais se pode adicionar... por mim, podem continuar esse debate silencioso entre vós.
Caracóis.... Contudo, não se trata de caracóis comuns, como os que invadem o lixo orgânico e que se lançam em missões suicidas pelo passeio depois de chover. Estamos a falar de caracóis especiais, criados para o efeito, gordos e suculentos.
São a versão em caracol daquele gado japonês, alimentado a cerveja, massajado e que adormece a ouvir histórias de encantar. A receita de que está à procura chama-se Escargots à la Bourguignonne. É feita com manteiga, vinho, e mais manteiga em cima disto...
Peço a Lyon que faça uma vénia, pois abençoou-nos com este rico caldo cheio de queijo, cebola e carne. Trata-se de outro prato de camponeses que ascendeu à categoria de nobreza culinária.
É um caldo quente, corpulento e salgado, repleto de suave cebola caramelizada, coberto por uma grossa camada de pão tipo baguete quase dura, ainda com uma grossa camada de queijo derretido, levemente tostado.
É uma sopa para quem não se preocupa com a sua saúde.
Um pernil de cordeiro que chora. No entanto, o pernil não chora por causa de alguma crueldade específica perpetrada contra um destes animais adoráveis, mas por causa da forma como este prato incrível é cozinhado.
O pernil é grelhado numa cama de batatas, de forma a que toda a gordura do cordeiro “chora” (ou dito de outra forma, pinga) da carne para as batatas a ferver, dando-lhes um sabor de lhe trazer autênticas lágrimas aos olhos.
E pronto, aposto que nunca pensou que a ideia de um cordeiro a chorar lhe fizesse crescer água na boca desta forma.
Agora, passamos do cordeiro que é cozinhado até às lágrimas para o bife que não é cozinhado de todo. Nem um bocadinho! O toque final é ser emparelhado com um ovo cru. Não se assuste.
Parece uma ideia medonha, mas eu defendo que enfrente os seus receios! Vá a uma das muitas pequenas e encantadoras brasseries de Paris e peça um Bife Tártaro. É um prato que, quando bem confeccionado, é sublime.
Não estamos aqui a falar de carne picada. Trata-se de um filete de carne de alta qualidade, bem cortado e temperado até à perfeição.
Talvez encontre algo crocante enquanto mastiga, como chalotas ou alcaparra, ou algo verde e fresco, como cebolinhos. Isto é alta cozinha deliciosa. Vai sentir-se importante. Peça-o.
Trata-se do melhor que a Bretanha tem para oferecer: um prato de marisco cozinhado de forma simples, no seu melhor.
Não faço ideia de quem foi a primeira pessoa com coragem suficiente para comer um mexilhão, mas de todas as vezes que me sento diante de uma tigela fumegante cheia destes malandros, com chalotas, vinho branco e manteiga, com batatas fritas a acompanhar e, claro, imenso pão torrado para o molho, agradeço silenciosamente a essa pessoa por ter tido fome suficiente (e uma certa estupidez) para se aventurar a comê-lo.
Peço aos camponeses que dêem um passo adiante e que façam uma vénia, porque mais uma vez acertaram na mouche!
Este guisado despretensioso, que dá pelo nome de Cassoulet, é originário da região de Languedoque. Se eu fosse uma daquelas pessoas que aparecem na televisão a falar de comida de forma pretensiosa, diria que esta região francesa é brutalmente rural.
Trata-se simplesmente de uma panela de comida caseira feita com feijões, carne e legumes, cozinhados durante horas, de forma a ficarem tão suaves como nenhum prato que tenha alguma vez provado.
Este guisado cheio de carne de caça e feijões, suculento e delicioso é o equivalente mais próximo a um abraço que pode dar ao seu estômago.
OK. Agora vamos falar de comida polémica; o foie gras implica uma prática não muito agradável de forçar a alimentação de um ganso, que é como quem diz, a versão em ganso do homicídio por “gula” do filme “Se7en - Sete Pecados Mortais”.
De todos as mortes nesse filme, a morte por gula é definitivamente a mais horrenda. Independentemente da sua posição moral em relação ao foie gras, é inegável de que se trata de um dos elementos mais famosos da gastronomia francesa, sendo originário da região da Alsácia.
Por causa disso, vamos incluí-lo na lista. Por favor, da próxima vez que vir um ganso, dê-lhe um abraço e peça-lhe desculpa por mim.
Este petisco com tomate, proveniente do País Basco francês, é parecido com um Ratatouille, ao qual foram adicionados uns ingredientes extra.
Um molho de tomate e legumes aos pedaços, quente e delicioso, é sempre algo maravilhoso. Contudo, com ovos escalfados no meio, este molho transforma-se em algo realmente especial.
A sério que não estou a tentar dar todo o crédito aos camponeses de França, mas mais uma vez, tenho de dizer que o mérito deste prato celestial é todo deles.
Estas batatas gratinadas costumam acompanhar pratos de carne em restaurantes. No entanto, lanço o desafio: encontrem-me algum ser humano racional incapaz de devorar um prato inteiro feito destas batatas por si só, como se fosse uma refeição.
Ora, vamos ver: batatas cortadas em finas fatias, cozinhadas em manteiga, leite e alho, cobertas com queijo crocante e pão ralado.
Parece um prato muito simples, quando assim descrito, de tal forma que me pergunto porque é que não me lembrei disto antes.
Só que eu não me lembrei disto - foram os camponeses de França que se lembraram, mais uma vez.
Na verdade, acho que descobri o segredo da gastronomia francesa...
Camponeses.
Queijo e camponeses. É isso.
- Dee Murray