Descobrir Valência de Bicicleta

Foi cedo de manhã que peguei na minha bicicleta de aluguer e deslizei lentamente pela Plaza del Ayuntamiento. Por um lado, estava a tentar cingir-me ao percurso que tinha desenhado no meu mapa; por outro lado, sentia-me enfeitiçado pela beleza ao meu redor. 

Com o seu clima agradavelmente ameno, uma escala compacta e 80 km de vias cicláveis que vão da cidade à praia, Valência é a cidade perfeita para descobrir de bicicleta.

Fui ganhando velocidade e tomando pequenas ruas laterais. Dei comigo na Plaza de la Virgen.  Parei para refrescar a cara na nuvem de água proveniente da fonte e para sentir o aroma das laranjas. Afinal de contas, isto é Valência.

Lá fui eu, ziguezagueando pela Carrer de la Pau (Rua da Paz), uma das principais artérias da cidade, esticando o pescoço para admirar os edifícios modernistas que albergam lojas de grandes marcas. Um suave burburinho ecoava pelo ar, à medida que os lojistas iam conversando e abrindo orgulhosamente as suas lojas. 

Como viria acontecer com frequência ao longo do dia, uma larga e convidativa via ciclável apareceu do nada, incitando-me a segui-la. Havia outros ciclistas, de todas as idades, casais e famílias, todos nas suas bicicletas de aluguer. Alguns ciclistas solitários moviam-se em bicicletas desdobráveis, a caminho do trabalho, envergando fatos. Pensei para mim: parece ser uma forma agradável de se deslocar para o emprego. 

A via ciclável levou-me para lá da cidade, com semáforos que paravam o trânsito, o que nos permitia a nós, ciclistas, seguir o nosso percurso sem problemas, ao longo de ruas movimentadas. Apercebi-me do quão fácil é explorar este terreno plano, enquanto se evita a necessidade de circular na estrada, ao mesmo tempo que os carros.

Uma das atracções mais espectaculares de Valência é o verde Parque Túria, cuja área ondula suavemente desde a cidade até à praia. Como indicam as 18 pontes pelo parque, o Parque Túria foi em tempos o rio Túria, desviado após galgar as margens em 1957, criando o caos na cidade e matando oitenta e oito pessoas pelo caminho. 

Cheio de caminhos pedestres, vias cicláveis, áreas de desporto, parques infantis, fontes e zonas para piqueniques, o Parque Túria é hoje um dos maiores e mais impressionantes espaços verdes de Espanha.

O Parque Túria é também onde fica uma das atracções mais visitadas em Valência: a emblemática Cidade das Artes e das Ciências [Ciutat de les Arts i les Ciències, em valenciano]. Com largas curvas, vidro brilhante e piscinhas de água azul-turquesa, este local quase extra-terrestre foi concebido por Santiago Calatrava e Félix Candela, indo buscar a inspiração à beleza da natureza e à busca pelo conhecimento. 

A estrutura em forma de hemisfério [L’Hemisfèric] ocupa um lugar central, albergando um cinema IMAX, um planetário e um laserium. Tem uma superfície vasta de 13.000 m² e o seu design lembra um olho gigante. Por isso, este espaço é também conhecido como “o olho do conhecimento”. O Museu das Ciências Príncipe Filipe [El Museu de les Ciències Príncipe Felipe] foi concebido para se assemelhar a um gigantesco esqueleto de baleia e, tal como o Oceanogràfic, o maior aquário da Europa, parece um sinuoso nenúfar em flor. 

Embora cada uma das atracções mereça uma visita, a que mais me fascinou foi o Oceanogràfic. Com cerca de 500 espécies marinhas, é impossível não se sentir como uma criança, à medida que caminha por túneis submersos, enquanto tubarões deslizam suavemente por cima de si. 

Também há golfinhos, morsas com um dente e manatins sorridentes. É possível aproximar-se tanto deles, enquanto brincam na água, que se sente o seu cheiro e se escuta perfeitamente a sua respiração. Os meus animais preferidos são as medusas do mar profundo, que evitam ser comidas pelos predadores emitindo raios de luz multicolores através dos seus corpos, como se fossem sabres de luz.

Tal como outrora o rio desaguava no mar, também a via ciclável desagua ali, numa marina onde se podem ver iates de bilionários e as areias sem fim das oito gloriosas praias da cidade. O Paseo Maritimo é um ídilico passeio público que abraça as areias de marfim, para além de ser perfeito para andar de bicicleta. Flanquado pelo Mediterrâneo de um lado e por uma míriade de marisqueiras, cafés e bares do outro lado, o que é preciso fazer é deixar-se guiar pelo ambiente colorido, até encontrar um sítio onde parar para comer umas tapas e uma paella. 

Não perca a clássica paella valenciana, no lendário restaurante La Pepica. É onde pode provar uma paella autêntica, tal e qual sempre foi feita em Valência: com frango, coelho e feijões verdes, em vez de marisco. Contudo, se quer mesmo um festim de marisco, peça a paella à moda da Pepica, que é servida com marisco fresco. É a melhor forma de recarregar energias para voltar de bicicleta para a cidade.

Quer seja um ciclista experimentado, ou um novato viajando com crianças, alugue uma bicicleta e deixe-se envolver - não há melhor forma de conhecer a cidade!