Guia de Valência para os amantes da Gastronomia

Localizada na solarenga Costa del Azahar, onde o rio Túria desagua no Mar Mediterrâneo, Valência não tem apenas um clima cheio de sol, praias de areia fina e um centro histórico cheio de cultura. Para os amantes da gastronomia, há toda uma cena dedicada à arte de comer bem que urge descobrir.

 

Então, onde comer e o que comer? Apresentamos-lhe algumas sugestões para o colocar na direcção certa...

Uma Manhã no Mercat Central (Mercado Central)

Galvanizado pelas suas credenciais gastronómicas, o Mercat Central de Valência é o maior mercado coberto da Europa. A sua fachada em estilo Art Déco feita de sumptuosa cerâmica alberga um número impressionante de bancas (cerca de 400), que vendem produtos frescos locais, provenientes da terra e do mar: legumes da época, cogumelos, carnes curadas, nozes, suave presunto ibérico, queijos, caramões vermelho-rubi, ouriços-do-mar e pequenas lapas que dançam em gelo.

Terceira vaga da Moda do Café

O Retrogusto Coffee Mates é uma pequena banca no Mercado Central que vende café da próxima geração: infusões frias, café de saco e clássicos baseados no espresso, feitos com ingredientes locais e maravilhosamente torrados. Não é preciso adicionar açúcar. Acompanhado por um bolo acabadinho de fazer com cremoso doce de leite, comprado numa das bancas de pastelaria do mercado, vai ver que é o pequeno-almoço perfeito.    

Uma Experiência de Tapas Essencial…

 Um rápido passeio pelas ruas antigas do Barrio del Carmen revela-lhe um mundo maravilhoso de todo o tipo de restaurantes e bares, como locais mais conhecidos como La Pilareta, famosa pelos seus suculentos mexilhões, La Taverna Marisa, onde pode refastelar-se com tapas saudáveis e vinhos locais e Sidrería El Molinón, onde pode dar-se ao luxo de degustar cidras e pratos gourmet concebidas pelos gastro-deuses das Astúrias.

Tapas com um Toque Criativo

Se está à procura de tapas criativas, a recomendação é ir até ao bairro de Cánovas e comer no MercatBar, onde pode regalar-se com tapas feitas com ingredientes vindos directamente do produtor O dono do MercatBar é Quique Dacosta, o chef premiado múltiplas vezes com estrelas Michelin. No entanto, não se preocupe, porque os menus têm propostas com uma excelente relação qualidade-preço, que o vão levar numa viagem de descoberta gastronómica. Os pratos são concebidos de forma divertida, incluindo criações como bolos airbags, que rebentam com sabores de parmesão e bacon a cada mordidela; ostras com algas em infusão de sementes de sésamo. O meu prato preferido é o suculento rabo de boi estufado.

A doce horchata e bolos revigorantes

Para os gulosos, a famosa horchata valenciana e os bolos “farton”, cobertos de açúcar, são alternativas perfeitamente revigorantes. A horchata é uma bebida semelhante a um batido, mas é feita com água, açúcar e tubérculos da junça, ou “chufas”, como os espanhóis lhes chamam. É doce e cremosa, com uma espécie de suavidade poeirenta que se torna realmente refrescante num dia de sol. Há várias pequenas “horchaterias” que são excelentes, mas os habitantes locais são unânimes em que é na Santa Catalina que vai encontrar a melhor horchata da cidade.

O Torrão Tradicional Valenciano Feito à Mão

 O torrão valenciano é uma espécie de nougat duro e doce, feito a partir de amêndoas torradas. É mundialmente famoso como uma guloseima tradicional de Natal. Este emblemático ex-libris espanhol é originário de Valência e a cidade ainda alberga uma das turronerias mais famosas de todos os tempos: a Turrones A. Galiana. Nesta fábrica de torrões, uma pequena equipa de artesãos dedicados cria em empacota manualmente travessas de delicioso torrão nas suas imensas variedades, assim como bolos mais clássicos e tentadoras frutas cristalizadas. Para o amante da gastronomia cultural, este é um pedaço de história comestível que não pode perder.

Deixe-se rodear por campos e florestas e passe uma noite mais perto das estrelas nesta luxuosa casa numa árvore, que fica no terreno de um castelo em Vernou la Celle sur Seine. Esta casa-árvore não tem electricidade. Por isso, prepare-se para uma romântica estadia à luz das velas. O pequeno-almoço é entregue todos os dias num cesto atado a uma corda, que puxa para o poder saborear. Não é preciso dizer mais nada, façam-me já a reserva!

Almoçar uma Paella à Beira-mar

Como o torrão, a paella tem a sua origem em Valência. Nos seus primórdios, era um prato simples de agricultores e operários, que se juntavam em redor de uma enorme paellera [frigideira típica] para celebrar. As receitas típicas de paella incluem arroz temperado com feijão verde, açafrão e uma mistura de frango, coelho e/ou caracóis. Nada de adicionar marisco, como normalmente consideramos ser a “norma” da paella.

 

Naturalmente que vai encontrar espalhados pela cidade inúmeros bares e restaurantes que servem paella e pratos de arroz. No entanto, o rei da paellera é inquestionavelmente o restaurante tradicional La Pepica, com um enorme terraço solarengo e idilicamente localizado na praia. Peça a paella valenciana tradicional com frango, coelho e feijões verdes, para provar o verdadeiro sabor deste prato, tal como era feito nos bons velhos tempos. Em alternativa, pode experimental o icónico prato da casa, a paella de marisco à moda da Pepica, com marisco descascado.

Uma Paella Clássica e Barata

A paella pode ser cara, mas se for ao El Laboratorio, localizado estrategicamente perto da sempre encantadora Plaza de la Virgen, pode deleitar-se com um festim de paella tradicional e um cocktail de alta qualidade por cerca de 10€.

Não Pode Perder o Aperitivo Água de Valência

Valência produz uma impressionante quantidade de sumarentas e doces laranjas. A melhor forma de as provar é espremidas na bebida mais emblemática da cidade: A Água de Valência. Não se deixe enganar pelo nome. Esta mistura enebriante não tem uma única gota de água, já que consiste em laranjas valenciadas acabadas de espremer com cava, vodka e /ou gin. Desfute de um copo de Água de Valência no ambiente elegante do Café de Las Horas, onde pode beber até não poder mais, enquanto ouve música ao vivo e absorve a sua atmosfera teatral.

Um Jantar de Luxo a Dobrar

 Para uma verdadeira experiência num restaurante fino, com um ambiente luminoso e casual ao mesmo tempo (e preços supreendentemente convidativos), não pode perder o Seu Xerea, com os seus menus de fusão mediterrânica-asiática. Steve Anderson, chef e visionário da gastronomia, cria pratos como chamuças de frango e amendoin, namban de carapau com iogurte picante, demonstrando mestria e criatividade. Enquanto isso, as costoletas de porco com batata-doce, molho agridoce, ananás e gengibre vão transportá-lo a um novo patamar do paraíso da gastronomia.

 

 Depois, há ainda o Restaurante Riff, premiado com estrelas Michelin. Uma crianção de Bernd H.Knöller, um chef fenomenalmente experiente em cozinha de luxo, com quem tive o prazer de passar o dia, o Riff é o culminar de décadas de trabalho árduo e dedicação à arte de bem cozinhar. Os pratos mudam frequentemente, “com demasiada frequência”, segundo me explica Bernd, enquanto passeamos pelo Mercat Central para comprar alguns ingredientes, antes de o restaurante abrir.

 “Sou um chef romântico. Gosto de vir aqui, de ver os produtos locais. Inspira-me e dá-me novas ideias.” Alguns sabores de assinatura incluem arroz com polvo levemente grelhado, merlúcio com feijão branco e chouriço, ou lagostins com tomates orgânicos e funcho. Poderá pensar que são receitas simples, mas quando as prova, verá que fazem todo o sentido.

 

 “Um amante de gastronomia fica contente quando a comida é apresentada de forma bonita”, diz Bernd, “mas para o especialista, o que importa é o sabor. O que importa é como o sabor o faz sentir.”

Especialistas Valencianos de Cervejaria Artesanal

 Barcelona pode ser a cidade que lidera a revolução espanhola da cerveja artesanal, mas a cena local valenciana é igualmente vibrante. Quando Bernd soube que eu tinha interesse em descobrir bares especializados em cerveja artesanal, contou-me com estusiasmo uma história sobre um casal italiano que abriu um bar chamado La Birreria, cuja especialidade é cervejaria artesanal italiana.

 

“Eles importam uma cerveja especial não-pasteurizada de Itália, que é mesmo fresca. Sou uma pessoa obcecada com qualidade e excelência e estas pessoas são como eu”, explicou-me enquanto nos aproximávamos dos donos.

“Pensemos numa Heineken, por exemplo: dou-lhe um dez e meio em vinte, mas estas cervejas aqui, dou-lhes pelo menos um dezanove e meio em vinte!” É um grande elogio vindo de um homem que ganhou e manteve uma estrela Michelin.

 

O dono do bar, Roberto, rapidamente serviu-nos uma série de cervejas de copo, desde IPAs duplas a fervilhar de lúpulo a stouts escuras e ardentes e cervejas brancas de estilo belga. De facto, a sua qualidade é verdadeiramente extraordinária e já estou a planear o meu regresso a Valência para provar mais variedades.

 

O final perfeito para um dia perfeito de gula aconteceu com uma garrafa de cerveja belga Saltafoss de tripla fermentação, descrita por Bernd como uma cerveja de vinte valores.

 

“É tão boa que quase não é cerveja. Rompe com todos os limites. É incrível”, afirma Bernd.  Não posso estar mais de acordo.

 

 

- Ben Holbrook